História
da F-Truck
Aurélio Batista Félix nasceu em Santos (SP), no dia 24 de abril de 1958, e desde criança sempre teve muito contato com caminhões. Era filho de caminhoneiro e ficava fascinado ao ouvir histórias das viagens de seu pai. Aos 9 anos de idade, começou a manobrar caminhões e, aos 11, já guiava automóveis pela rua. Pouco depois, aos 16, ficou conhecido no bairro por fazer com uma Kombi algumas das manobras que mais tarde fariam parte do show nas provas da F-Truck. Foi naquela mesma época que ele começou a guiar caminhões nas estradas e quando não havia risco de fiscalização da polícia rodoviária até arriscava viagens de pequenos trajetos. Mas o trabalho como caminhoneiro começou mesmo aos 17 anos.
Com o pai adoentado, ele assumiu a boléia e passou a fazer o transporte de motores Ford do modelo Maverick para o porto de São Sebastião. Descia a rodovia dos Tamoios e se divertia dirigindo carretas de 10 toneladas.
Aurélio participou da primeira prova de caminhões realizada no Brasil, em Cascavel, em 1987, considerada o berço da Fórmula Truck. Mas a experiência acabou retardando a criação da categoria em razão de um acidente fatal na corrida. Ali, começou um trabalho mais direcionado à idéia, com a criação da Racing Truck, em 1989, funcionando na mesma sede da Transportadora ABF, em Santos. Paralelamente a atividade de sua empresa de transporte, Aurélio investia em seu grande sonho, a F-Truck. Aos poucos, o filho de caminhoneiro e já vice-presidente do Sindicato dos Motoristas Autônomos da Baixada Santista foi preparando alguns caminhões que tirava da sua própria frota e transformando-os em caminhões de corrida.
O trabalho na preparação do caminhão, do motor, suspensão, criação de novas peças e principalmente os equipamentos de segurança, exigiu incansáveis pesquisas e reuniões do pequeno grupo comandado por Aurélio. Paralelamente, um regulamento técnico foi tomando corpo com a preocupação de colocar modelos e marcas diferentes em nível de igualdade dentro da pista. Começaram as provas-exibição em 1993, já reunindo perto de 10 mil pessoas nos autódromos. Em 1994, fez uma apresentação oficial em Interlagos e mostrou o Fórmula Truck para empresários, autoridades esportivas e imprensa. No ano seguinte, o público nas provas-exibição já passava de 15 mil pessoas e a CBA começou a estudar a homologação do evento automobilístico que já impressionava por levar um público tão grande aos autódromos.
O reconhecimento do trabalho de Aurélio Batista Félix veio com a aprovação da Fórmula Truck pela Confederação Brasileira de Automobilismo para a criação definitiva do campeonato brasileiro em 1996.
Os equipamentos de segurança desenhados por Aurélio e produzidos na própria sede da Fórmula Truck foram reconhecidos pela entidade máxima do automobilismo brasileiro e hoje são superiores aos utilizados na Europa.
Aurélio estava realizando o sonho da internacionalização da categoria, com negociações adiantadas para uma corrida na Argentina. O projeto ganhou força depois da visita de Aurélio a uma etapa da Truck européia, em Nürbürgring, no ano passado. Ele voltou animado e teve longas conversas com representantes da categoria que visitaram o Brasil em 2007.
Aurélio faleceu aos 49 anos de idade e era casado com Neusa. Deixou 3 filhos: Danielle, Gabrielle e Aurélio Jr.
Em 28/06/2017, a F-Truck após ter acumulado dívidas milionárias e ter os caminhões penhorados, suspendeu oficialmente suas atividades. Depois de uma série de problemas, cancelamento de etapas e um grid vazio e composto por nomes pouco conhecidos nas corridas realizadas, a categoria comunicou que não daria prosseguimento ao campeonato. No comunicado oficial, assinado pela chefe da categoria Neusa Navarro, a F-Truck culpa a crise econômica brasileira e "outros sérios problemas que surgiram no semestre". Com o grid cada vez mais minguado, problemas no calendário e falta de patrocinadores, a F-Truck ainda viu nascer a Copa Truck, nova categoria com basicamente todos os seus pilotos, formato novo, patrocínios e contrato de televisão.
A categoria suspende suas atividades tendo Renato Martins e Felipe Giaffone como maiores vencedores de sua história. Os dois estavam empatados em 27 pontos. A condição de maior campeão também é dividida: Giaffone e Wellington Cirino são os único tetracampeões da história do certame. Confira a íntegra do comunicado da F-Truck:
"Comunicamos a todos patrocinadores, colaboradores, torcedores, dirigentes, pilotos e amigos, a suspensão de nossas atividades relacionadas ao Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck - temporada 2017.
As razões que nos levaram a tal decisão foram de ordem econômica, emanadas pelo cenário que atinge o mercado brasileiro, já há três anos, com fortíssima acentuação no segmento do transporte, pelo qual pertencemos, bem como outros sérios problemas que surgiram neste semestre.
Não foi fácil chegar à condição de principal categoria do automobilismo do Brasil, mas os números não negam, alcançamos resultados muito fortes e impressionantes, sofremos e amadurecemos, mas com uma estrutura que nos permite afirmar que fizemos sucesso, e isso, só foi possível porque nossos objetivos sempre foram pela busca incessante do retorno aos patrocinadores e pela dedicação extrema ao grande público que sempre nos prestigiou.
Porém, as coisas nem sempre são do jeito que gostaríamos que fossem, chegou nossa hora de pararmos, repensar nossos caminhos, asseguramos que não vamos desistir, vamos continuar lutando para cravar outras marcas até o fim de nossa trajetória. A vida é assim, ela nos experimenta, insistimos, mas chegou a hora de discernirmos a emoção da racionalidade, as duas podem até conviver por algum tempo, mas por fim, a racionalidade sempre deve imperar.
Gostaríamos de ressalvar que estaremos envidando todos os esforços para retomarmos nossas parcerias para a temporada 2018, cabe ressaltar que estamos tão somente suspendendo o campeonato de 2017, sendo que nossas demais atividades continuam normalmente.
Agradecemos por todos os momentos em que voces, público e patrocinadores, nos deram a preferência e oportunidade de recebê-los, esperamos ter entregado não só um entretenimento nos autódromos que sempre procuramos melhorar e arrumar, mas também a certeza de que sempre bem atendemos e que cumprimos a nossa missão de construirmos amigos ao longo deste empreendimento.
A todos que acreditam no nosso trabalho, nossa mais sincera gratidão".
Perfil da categoria
Em 2006, dos 22 pilotos
só dois deles mantinham o perfil de pilotos de caminhão dos anos
de 1995 e 1996, ano em que a categoria começou a se profissionalizar
com a homologação da CBA - Confederação Brasileira de Automobilismo:
Eduardo Fráguas Landin, o Macarrão - caminhão Volvo e Luiz Carlos
Lanzoni - caminhão Scania.
Tanto
Macarrão, 41 anos, solteiro, e Lanzoni, 48 anos, casado com três
filhos, se consideram representantes dos caminhoneiros na Fórmula
Truck. "Nunca corri de nada na minha vida. Guio caminhão desde
quando tinha 17 anos e ajudava meu pai nas viagens longas",
conta com orgulho o piloto considerado o mais irreverente da categoria
pelos seus adversários. Macarrão confessa que por falta de patrocínio
e consequentemente um equipamento melhor, não tem a pretensão
de disputar o título da Fórmula Truck, mas se define como "o espírito
da Fórmula Truck". Com a falta de um patrocínio maior, Macarrão
treina muito pouco durante a temporada. Mesmo assim toma o cuidado
de não bater e não quebrar seu Volvo. "Não tenho dinheiro para
consertar o caminhão. Não ando no pelotão da frente mas sinto
muita emoção quando o público aplaude na minha passagem",
diz emocionado o piloto.
Luiz
Carlos Lanzoni também é remanescente do tempo em que o grid não
passava de 10 caminhões - hoje com 22. Estreou na segunda prova
em Londrina (PR) e diz que até hoje leva a vida dentro de uma
boléia de caminhão. "Eu continuo batendo a alavanca. Todo o
mês faço uma ou duas viagens de São Paulo à Belém do Pará. Convivo
com os irmãos da estrada e sempre sou cobrado para dar um pau
nos pilotos", conta Lanzoni, que diz ter dificuldades para
explicar aos seus "irmãos" que seu caminhão tem perto de 300 cavalos
a menos do que os caminhões dos ponteiros. "Não subo no pódio
mas levo sempre para minha casa um troféu, que é o meu próprio
caminhão". Lanzoni gosta tanto de correr na Fórmula Truck
que as vezes tem de recusar um frete até Belém em função do calendário
do campeonato.
Com
o total apoio dos familiares, Lanzoni diz que corre melhor quando
seus pais estão no autódromo torcendo por ele. Segundo
o piloto que mora em Osasco, SP, sua paixão é mesmo o caminhão.
Tanto faz estar correndo na Fórmula Truck como guiando na estrada,
onde a forma de "tocar" é bem diferente da pista. "As vezes
me dá uma dor no coração quando reduzo demais as marchas e vejo
o giro do motor subir acima do normal nas entradas de curvas.
Na estrada tenho todo o cuidado com os buracos, mantenho a rotação
certa do motor e não exijo muito dos freios. Meu melhor tempo
no trecho São Paulo-Belém, ida e volta é de 8 dias".
Pedro
Muffato: uma história de amor pelo automobilismo
Pedro
Muffato está há mais de 3 décadas no automobilismo. Já pilotou
praticamente tudo que tenha motor e 4 rodas: carros de turismo,
protótipos, monopostos de Fórmula 2 e Fórmula 3. Em 1974, foi
campeão brasileiro da extinta Divisão 4, então principal competição
nacional, equivalente à Stock Car V8 atual. Há 3 anos, o paranaense
faz parte do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck, categoria
de maior ascensão nos últimos tempos.
A
história de sucesso de Pedro nas pistas teve início ainda na década
de 60, quando participou, numa pista improvisada nas ruas de Cascavel,
sua cidade, das primeiras corridas de sua carreira. Naquela época,
ele teve participação no processo que consolidou a cidade como
a primeira do interior do Brasil a ter um autódromo com traçado
asfaltado. Inclusive, Pedro comandou em abril de 1973, como prefeito
cascavelense, o traçado com asfalto.
A
paixão pela velocidade o fez transcender a condição de piloto.
Pedro, entre os anos 70 e 80, atuou como construtor de carros
de corrida. Seus chassis Muffatão deram suporte à Fórmula 2 Codasur,
precursora da atual Fórmula 3 Sul-Americana. A revista "Placar"
o definiu como "Colin Chapman do Paraná", alusão ao
lendário fundador da equipe Lotus, cujo modelo 72D levou Emerson
Fittipaldi, em 1972, ao primeiro título do Brasil na Fórmula 1.
Muffato
sofreu, em 1996, o acidente mais grave de sua carreira. Foi numa
prova da Fórmula 3 Sul-Americana, em Cascavel. Levado a São Paulo
numa "UTI voadora", permaneceu em coma induzido durante
17 dias. Teve todas as costelas quebradas e fígado e rins esmagados.
Esteve entre a vida e a morte. Foi essa sua maior vitória na carreira.
Recuperado, abandonou as pistas e passou a atuar como comentarista
da ESPN Internacional nas transmissões da F-3.
A
paixão pelo automobilismo fez com que Pedro se rendesse ao insistente
convite de Aurélio Batista Félix, promotor da Fórmula Truck, para
voltar às pistas. E o retornou aconteceu no ano 2000. De início,
pilotava um caminhão do próprio Aurélio. Depois, com a experiência
adquirida nos tempos em que fabricava seus carros de competição,
montou a M. A. Motorsport, pela qual compete até hoje. É a equipe
que deu ao paulista Roberval Andrade o título de 2002. Aos
61 anos de idade - ou "um sessentão nas pistas", como
ele próprio define -, o avô Pedro é o mais experiente piloto em
atividade no Brasil, um dos mais experientes do mundo. David Muffato,
seu filho, herdou a paixão pela gasolina e é, hoje, um dos principais
pilotos da Stock Car V8 nacional.
Um
menino que consolidou o sonho de ser campeão
Ao
conquistar, no ano passado, o título do Campeonato Brasileiro
de Fórmula Truck, Roberval Andrade concretizou a quarta e última
etapa de seu maior sonho no automobilismo. O piloto paulista foi
campeão acumulando três vitórias, dois 2º lugares, um 3º
lugar, um 4º lugar e dois 5º lugares. "Esse
título vai marcar a minha vida para sempre", declarou
o piloto, emocionado, depois da última das 9 corridas de 2002,
disputada em Curitiba. Roberval acabava de conquistar para a Scania
o 4º título em 7 temporadas de existência da Fórmula Truck
no Brasil. Os outros 3 haviam sido ganhos pelo paulista Renato
Martins Vieira, em 1996, e pelo paranaense Osvaldo Drugovich Júnior,
nas temporadas de 1997 e 1998.
O
sonho de Roberval de chegar ao título da F-Truck é um tanto recente.
Nasceu durante uma etapa do campeonato de 1999, em São Paulo.
Assistindo à prova em pé, ao lado do alambrado que circundava
o S do Senna, o paulista se viu maravilhado com a categoria dos
caminhões, que à época já se consolidava como a de maior ascensão
no cenário automobilístico brasileiro. "Eu precisava fazer
parte daquele campeonato, daquelas corridas", lembra.
O
desejo repentino intensificava a ligação de Roberval com os caminhões.
Filho de caminhoneiro, ele conviveu com os pesados desde criança.
Foi com o pai, aliás, que aprendeu a guiar. Quando tinha 11 anos,
seu pai foi morto durante um assalto, e a vida do então menino
sofreu uma guinada drástica. Determinado a crescer na vida, ele
passou a consertar e vender bicicletas para ajudar no sustento
das duas irmãs e do irmão. Em pouco tempo, Roberval era caminhoneiro.
Enfrentando o dia a dia das estradas, progrediu com sacrifício.
Comprou um caminhão, a transportadora dos tios e, quando teve
seu primeiro contato com a F-Truck, era frotista e empresário
no ramo de madeiras. A primeira etapa do sonho de ser campeão
foi cumprida em 2000, quando alugou um dos caminhões da equipe
do gaúcho Tiago Grison. Com o Volvo, fez suas 3 primeiras participações
no campeonato. Contudo,
ainda não era o que o piloto queria. De todos os caminhões que
havia visto em ação em Interlagos, um, em especial, lhe chamou
atenção. Era o Scania de número 1, azul e coberto por estrelas
brancas, pilotado por Drugovich. "Quando pus na cabeça
que seria um piloto da Fórmula Truck, queria estar dentro daquele
caminhão. Pode parecer uma coisa infantil, mas minha determinação
era essa", lembra Roberval, citando a segunda etapa de
seu sonho. Como, em 2000, Drugovich já havia se retirado da categoria,
o paulista o procurou e definiu a compra de seu caminhão. A negociação
envolveu a estrutura completa da equipe de F-Truck. Para consolidar
o negócio, venceu sua Mercedes E320, uma motocicleta Yamaha 1.000cc
e dois caminhões. "Para mim, era mais importante ter a
minha equipe na categoria, e para isso eu não me importei em me
desfazer de coisas das quais gostava", relata.
Roberval
estreou o novo caminhão na penúltima etapa do campeonato de 2000,
em Porto Alegre. Terminou em 8º, depois de se envolver num
acidente com Fred Marinelli. Na última corrida do ano, em Curitiba,
era o segundo colocado quando sofreu um violento acidente. "Aquela
batida foi um balde de água fria, mas eu não desanimei. Sabia
que tinha muito para buscar na Truck e, afinal de contas, meu
sonho não estava completamente realizado", lembra.
A
1ª etapa do campeonato de 2001 tornou evidente a vontade
de vencer nutrida por Roberval. Ele conquistou na pernambucana
Caruaru a primeira vitória na categoria e surgia como um dos favoritos
ao título. A ascensão técnica das equipes da Mercedes-Benz e da
Volkswagen, contudo, acabaram por deixar a disputa entre Wellington
Cirino, que seria o campeão, e Renato Martins. Andrade, com uma
vitória, terminou a temporada em 3º.
O
ano de 2002 era esperado por Roberval Andrade como de realizações
no automobilismo. Afinal de contas, se nada de errado acontecesse,
concretizaria mais uma etapa de seu sonho, o de competir em Interlagos,
a pista que despertou seu desejo de ser um piloto da F-Truck.
Antes disso, contudo, ele viria a festejar uma de suas maiores
conquistas - o apoio oficial de fábrica da Scania, a última das
grandes montadoras a entrar de maneira efetiva na categoria. A
Scania oficializou com a temporada em andamento seu apoio, dando
o suporte técnico e logístico à M. A. Motorsport, equipe que participa
do Campeonato Brasileiro com Andrade e o paranaense Pedro Muffato,
um dos pilotos de maior experiência no automobilismo brasileiro.
"A participação da Scania foi fundamental que nós chegássemos
ao título. A chegada deles à equipe deu outro rumo a todas as
nossas atividades", atesta o piloto.
Já
contando com o apoio oficial da fábrica, Roberval pôde, enfim,
realizar o sonho de correr em Interlagos. Foi segundo colocado,
numa prova vencida por Cirino depois que Martins, então líder,
abandonou com problemas mecânicos a menos de 500 metros da linha
de chegada. "Foi um grande dia para mim, estar no pódio
na pista de maior tradição do País. A festa foi ainda maior, porque
o Pedro terminou em terceiro. Não vou esquecer aquele dia",
confessa. Mas, apesar da efusiva festa em Interlagos, faltavam
2 etapas para que o sonho do título pudesse ser confirmado. Em
Tarumã, Cirino conquistou mais uma vitória. Andrade, mais uma
vez, foi o 2º. A decisão seria em Curitiba. A vantagem matemática
permitia ao paulista da Scania ser campeão brasileiro se terminasse
a prova entre os 4 primeiros colocados. Sob chuva forte, largou
da pole-position e terminou em 3º. Era campeão. "São
tantos fatores que contribuíram para a confirmação desse título
que fica difícil enumerar. A Scania teve um papel fundamental.
A experiência do Pedro, que me ajudou em tudo que foi possível,
foi outro ponto importante", lembra. Ele compartilha
os méritos, também, com Aurélio Félix, idealizador e organizador
da categoria. "Ele tem feito a Truck crescer à base de
competência e seriedade, isso valoriza ainda mais a nossa conquista",
atribui.
Mad Macarrão
O
piloto Eduardo Landim Fráguas, conhecido como "Macarrão",
é um carreteiro autêntico, ou seja, a sua vida sempre foi na boléia
de um "cavalo mecânico". No início era para transportar "containers"
pelas estradas brasileiras, hoje é para comandar uma máquina que
pode alcançar mais de 200 km/h nas pistas de automobilismo. E
toda essa relação começou bem cedo na sua vida, aos 16 anos de
idade esse paulista da cidade de Santos já trabalhava numa oficina
mecânica como lavador de peças. Em 1977, foi promovido a ajudante
de mecânico e passou a trabalhar em caminhões. Neste mesmo ano,
Macarrão adquiriu o seu primeiro caminhão, um GM que já tinha
uns bons vinte anos de estrada.
No
ano de 1994, mais precisamente no dia 7 de janeiro, Eduardo Macarrão
conheceu o primeiro protótipo de um Fórmula Truck. Foi no autódromo
de Interlagos que o piloto dirigiu pela primeira vez um truck
para competição, nem bem desceu da boléia e já arquitetou a sua
participação na categoria. Foi em busca de um financiamento para
adquirir um caminhão Volvo novo e prepará-lo para competir. Mas
os tempos eram difíceis, as dificuldades financeiras eram muitas,
Macarrão conseguiu o seu truck, porém precisou de sete meses para
colocá-lo em condições de participar da competição. A sua estréia
ocorreu no dia 22 de abril de 1995. "Sempre fiz o que
gosto e sempre gostei de caminhão, quando poucos acreditavam que
a Fórmula Truck poderia dar certo, eu a abracei e investi muito
em cima dela. Sou persistente, não desisto fácil", enfatiza
o piloto.
No
início a Fórmula Truck era mais um show, era necessário cativar
o público com manobras radicais, derrapagens, batidas, zerinhos,
ou seja, tudo que elevasse a adrenalina de quem estivesse assistindo.
E Macarrão consagrou-se nessas manobras, não importava a posição
na corrida e sim satisfazer aos milhares de fãs que ia cativando
pelos autódromos brasileiros. "Eu fazia o que a galera gostava,
quando ia para a pista o pessoal já estava esperando um show.
Pô, imagina os gritos - Macarrão, eu vim aqui só para te ver-,
é muito gratificante receber essa atenção das pessoas",
lembra Macarrão.
E
o Mad Macarrão, como ele mesmo se intitula, foi colaborando cada
vez mais com a sua fama, pintava os cabelos com várias cores,
usava os vestidos da Débora Rodrigues (Volkswagen) quando perdia
apostas para ela. Tudo isso servia para aumentar a sua popularidade,
com muita irreverência e bom humor o piloto cativa o público.
"Já sou figura marcada, tenho fã clube em todo lugar que vou",
revela, sem pretensão.
As
participações do piloto na competição sempre foram de muita ousadia
e arrojo, em duas oportunidades pelo menos as suas atuações evitaram
verdadeiras tragédias. A primeira foi na etapa de Campo Grande,
no ano de 2001, na reta dos boxes o caminhão Volvo perdeu uma
das rodas que continuou em velocidade, em chamas, margeando o
muro, com a evidência da roda atingir o público, Macarrão realizou
uma manobra brusca e interrompeu a trajetória. A outra, com certeza
o momento mais tenso da sua carreira, ocorreu esse ano na etapa
de Interlagos (SP), seu caminhão pegou fogo e ficou sem freios
no meio da reta principal. O piloto levou o caminhão até uma área
sem presença de público, saltou da cabine quando chegou no "S
do Senna" e o caminhão, desgovernado, bateu na proteção de pneus.
Apesar
de todo o seu reconhecimento pelo público, Eduardo "Macarrão"
Fráguas viu a Fórmula Truck crescer e era necessário acompanhar,
por isso fixou seu objetivos, ou conseguiria apoio de uma montadora,
ou iria aliar a sua estrutura a uma outra escuderia. "Estou
na categoria desde o início, antes dava para ser competitivo com
as próprias forças, hoje não. Com certeza terei muito apoio para
crescer na categoria com a união a Londrina Truck Racing, que
já é uma equipe forte na Fórmula Truck", declara Macarrão. |