Tragicômico
Bem antes
de começar a correr em carros de corrida de verdade, ou quase
isso, como quase todo piloto comecei no kart em 1983. Como todo
começo era muito difícil, mas como dispunha, por influencia de
meu pai, um pouco de patrocínio que aliado ao "paitrocínio", viabilizava
um considerável ganho a cada corrida, gradativamente ia mostrando
algum talento e já no meio daquela temporada já vinha brigando
por posições da frente.
Naquela
época existia o campeonato regional de kart , disputado nas cidades
de Medianeira (uma cidade bem pequena do interior do Paraná entre
Cascavel e Foz do Iguaçu) e Foz do Iguaçu. Eram disputadas as
categorias A, e dos que competiam nela naquele tempo me lembro
do Angelo Giombelli (posteriormente campeão brasileiro de Stok
Cars), José Chemin entre outros botas. E a categoria B , que além
de mim também competiam Arlindo Cavalca (F-Ford Inglesa nos anos
90), Miguel Beux, Ruy Chemim (meus amigos até hoje) entre outros
que não me lembro.
Foi no
meio do campeonato em uma etapa em Medianeira que aconteceu um
dos fatos mais inusitados que já vi no automobilismo. Meu amigo
Ruy Chemin definitivamente não vinha em um ano bom. Era tido como
um dos favoritos ao título mas em função de acidentes e quebras
os resultados não estavam surgindo. Muito treino trabalho e dedicação
e lá estava ele na pole para aquela etapa. Eu não me lembro mas
eu devia ter classificado em terceiro ou quarto. Dada a largada
o Ruy sumiu na frete de todos nós , a nos deixar literalmente
comendo poeira (lá é a terra do pé vermelho). Quando ele já tinha
mais ou menos 1/3 de volta em nossa frente , um outro competidor
do bloco intermediário deu uma cacetada e saiu capotando em um
determinado ponto da pista atravessando as telas de proteção (naquele
tempo tinha) indo parar em uma outra parte da pista , mais ou
menos meia volta a frente da onde ele estava fisicamente na pista,
sem que houvessem portanto maiores danos ao piloto. Até ai tudo
bem, se não fosse ao aterrizar acertesse em cheio o lider da prova
, o Ruy, fazendo com que este abandonasse ali mesmo a primeira
bateria. Nem me lembro quem acabou ganhando aquela bateria, eu
não fui, deve ter sido o Cavalca. Mas me lembro da cara de meu
amigo Ruy nos boxes no intervalo das baterias. Cabeça erguida,
lá fomos nós para a Segunda . Ruy largou em último e vinha em
um ritmo muito forte recuperando posições, já estava no meio do
pelotão quando ao passar um concorrente bateu roda com roda e
saiu também capotando ,e feio . O kart entortou o chassis como
se fosse um clips e ele sofreu 36 escoliações (sim, ele contou)
sem ter, ainda bem, quebrado nada. Interrupção da corrida, lá
vinha o Ruy com o macacão todo rasgado e cheio de sangue para
os boxes. Tá achando muito? Ao chegar nos boxes ainda apanhou
(ou quase isso) de seu pai, meu amigo Ayrton Chemin, que o julgou
precipitado na ultrapassagem do concorrente colocando a perder
também os eventuais pontos da segunda bateria.
Depois
disto só me lembro que na segunda-feira Ruy também perdeu a namorada,
mas ela era muito feia.
Até a
próxima,
Aloysio
Ludwig Neto
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