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Sem amortecedor...

Já vão alguns anos em que em determinados encontros com colegas que vivi meu passado no automobilismo, volta e meia me tiram um sarro me perguntando se dá muita diferença um carro com ou sem amortecedores. Claro que dá! Mas em todo caso, uma triste e engraçada experiência me ocorreu em 1990 (vão-se os anos).

Naquela temporada aceitei o convite de Marcos Corso para defender a sua equipe para o Campeonato Paranaense de Marcas . Era o primeiro de muitos com dois pilotos, obrigatório para aquele campeonato. Disputariamos o campeonato com um Passat de uns "duzentos anos", que apesar de todo esforço dos competentes da Tecnicar, Alberto Gonzales e Marco Martin, teimava em não ter um bom contorno de curvas, mas o motor era ótimo, o que em partes, e principalmente em Cascavel, nos dava condições de brigar com o Voyage novo de Chico Maia e Gastão Weigerth, preparados simplesmente por Ereneu Boëttger. Pois bem, chegamos naquele ano à última de 6 etapas do campeonato com dois 1º lugares, um 3º e dois abandonos, sem dúvida a dupla mais incostante do campeonato. Mas como o critério era o descarte do pior resultado, estavamos na briga pelo título, bastando vencer a última etapa independente do resultado dos outros concorrentes.

Entre um teste e outro, em uma determinada tarde não conseguíamos colocar o velho Passat 70 no chão, ou melhor, alguma coisa no chão, porque bom pra mim ele nunca ficava. Lembro-me que um referencial bom para época era uma volta em torno de 1m22s90, e o máximo que consegui até aquele momento era 1m23s20. Mais que aquilo não vinha mesmo! Os dados do motor estavam normais. O equilíbrio do carro estava estranho, mas não trágico. Eu acreditava que era por conta do tempo, muito frio naquela tarde de primavera. Mas o tempo... cadê o tempo? Depois de realinharmos umas dez vezes o velho Passat o Alberto deu sua tradicional ordem ao mecânico chefe: "Ari , saque os amortecedores traseiros para vermos se não tem alguma anomalia". Ao macaquear o carro e ver os amortecedores, o Ari saiu debaixo de carro com gagueira, não falava nada, parecia que tinha dado um colapso por algum motivo. E tinha! O Marcão (Marco Martin) após interrogar o mecânico sem que o mesmo conseguisse falar nada , olhou para roda traseira e deu um grito: "só que não tem amortecedor!!!" . Alberto olhou pra mim e me interrogou: "como não sentiu o carro sem amortecedor Aloysio???" . Pensei rápido mas nada poderia justificar as duas falhas; da equipe por deixar um carro incompleto e meu por não ter tido naquele momento uma sensibilidade no mínimo razoável para detectar o problema. Mas a vergonha de ambos os lados foi logo substuida pela empolgação da pergunta: "quanto viraremos com amortecedor? 1m22s50?" No mínimo, eu imaginava. Decepção maior, ao colocar o carro com os quatro amortecedores e finalmente dar-lhe um equilíbrio legal, foi o tempo pouca coisa abaixo do anterior, por volta de 1m23s00. Com certeza o ocorrido acabou me destruindo a motivação naquele dia.

Depois daquele dia difícil, sugeri a equipe que fossemos dormir e se possível não contarmos a ninguém o que passou, pois teríamos que dar diversas explicações e tecnicamente a conta até hoje não fecha. Mas não adiantou nada o pedido: na última etapa daquele ano, em todo box que eu passava alguém me chamava pra vender amortecedores.

Semana que vem conto mais.

Um abraço a todos.

Aloysio Ludwig Neto

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