Primeiro
vencedor fala da magia das Mil Milhas
Reportagem:
Luciano Monteiro
Grelak Comunicação
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Fornari
lembra conquista de 1956, confirmada ao lado do saudoso
Andreatta, e compara épocas distintas na história da corrida
mais tradicional do país. |
Numa
época em que o automobilismo está diretamente associado ao profissionalismo
e à tecnologia de competição, fica difícil discorrer sobre os
anos em que as corridas eram impulsionadas pelo romantismo. E
poucos fazem de modo mais convincente que Breno Fornari. Com 76
anos e invejável lucidez de raciocínio, o gaúcho lembra com saudade
da vitória que conquistou na primeira edição das Mil Milhas Brasileiras.
Fornari
diz lembrar de cada detalhe do distante 25 de novembro de 1956,
quando, a bordo de um Ford Carretera, conquistou o primeiro degrau
do pódio, ao lado de seu saudoso parceiro Catarino Andreatta.
Começava ali a história da corrida que, 46 anos depois, é considerada
a mais tradicional e importante do automobilismo brasileiro.
"Aquela
primeira corrida foi uma festa, tudo foi novidade, era fantástico",
lembra. "Eu nunca tinha visto um público tão numeroso
como aquele. Um dos detalhes que me chamou atenção foi o volume
de pneus e tambores de combustíveis na parte de trás do autódromo.
Parecia uma empresa de comércio desses produtos. É uma imagem
que sempre ficou gravada na minha memória", comenta,
com detalhes.
A
vitória na primeira edição das Mil Milhas foi conquistada por
Breno e Catarino com um Ford Carretera, equipado com motor de
180 cavalos. A caixa de câmbio tinha o miolo da utilizada no Ford
Lincoln. "A carcaça, não lembro mais de onde era",
diverte-se. Nos anos seguintes, a dupla adotou uma versão mais
forte de motor, com 260 cavalos, e passou a utilizar o câmbio
de quatro velocidades que equipava os Jaguar da época.
A
história de Breno
Breno
Fornari, que em suas últimas participações nas Mil Milhas pilotou
um Simca Chambord, conciliou suas atuações na prova com a participação
no Campeonato Uruguaio de Endurance de 1964 a 1966. Antes, em
1962, havia vencido as 12 Horas de Tarumã. Sua carreira nas pistas
durou até fins da década de 70, período em que participou de mais
uma série de outras competições pelos quatro cantos do país.
O
ex-piloto mantém sob plena conservação, até os dias de hoje, uma
réplica do modelo com que venceu as primeiras Mil Milhas há 46
anos. Ele faz questão de frisar que não se trata simplesmente
de uma réplica. "O carro tem muitas partes que eram da
Carretera naquela primeira corrida", assegura. "E
o que é melhor: funciona perfeitamente. Às vezes, faço exibições
nas pistas gaúchas. É uma verdadeira relíquia", orgulha-se.
Fornari,
que acompanha atentamente o desenrolar da história da prova, reconhece
que o romantismo que marcou sua época foi substituído por tudo
o que a evolução dos tempos existe. "Tudo era mais romântico,
mais artesanal, na base da loucura, mesmo. Hoje em dia o pessoal
dispõe de um poder econômico maior, capaz de viabilizar a importação
de carros como Porsche e Mc Laren, carros que venceram nos últimos
anos".
Ao
citar máquinas que fazem brilhar os olhos dos pilotos da atualidade,
Bruno manifesta sua saudade do tempo em que disputava freadas
com outras Carretera, DKW, Gordini, Interlagos, Willys. Dos pilotos
com quem tinha mais afinidade nos anos 50 e 60, manifesta saudade
do próprio Andreatta, de Camilo Christófaro e Ciro Caires, pilotos
já falecidos. "Formávamos uma turma e tanto. Dá saudade",
expõe, de olhos marejados.
No
total, Breno participou de nove edições das Mil Milhas. Nas quatro
primeiras, utilizou o número 2. Nas seguintes, adotou o 35 que
o acompanhou ao longo de toda sua carreira no automobilismo. "O
pessoal de São Paulo, na época, tinha preferência na escolha dos
números, e sempre que chegávamos lá para a corrida, o 35 já estava
reservado. Aí tínhamos de optar pelo 2, mesmo. Depois, conseguimos
efetivar o 35", lembra.
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