Crônicas-

Mais que vecedor!

Alex Dias Ribeiro
Alex ficou conhecido no mundo inteiro pela inscrição Cristo Salva, que sempre levava em seus carros, e pelo testemunho de vida cristã que sempre acompanhou esta mensagem.

Saí acelerando forte da curva 3 do circuito de Watkins Glen nos Estados Unidos. Estiquei a terceira do Copersucar F-5 até o motor gritar espavorido na marca dos 9800 giros e enfiei uma quarta. Ao sacar rápido o pé da embreagem, senti nas costas o tranco dos 500 cavalos do velho Cosworth, acompanhado de algo muito estranho: o volante saiu na minha mão com coluna e tudo! Eu estava a mais de 200 km por hora! Numa atitude instintiva, empurrei o volante de volta e por um milagre consegui encaixá-lo no eixo da caixa de direção. Voltei devagar para o box, sabendo que estava percorrendo os últimos metros de uma estrada que me levou a muitos lugares, muitas emoções, muitas encrencas, mas acima de tudo me permitiu fazer durante anos aquilo que eu mais gostei de fazer na vida: dirigir um carro de corrida de "pé embaixo" e anunciar para o mundo que Cristo Salva. Entrei lentamente nos boxes, acionei os freios e as rodas do meu carro pararam de girar pela última vez. Era o fim de Alex Dias Ribeiro na Fórmula 1 e do Cristo Salva pelas pistas do mundo. Foi o fim de um sonho e de um ideal; foi a morte de uma visão.

Quando coloquei o pé no chão dos boxes de Watkins Glen, ao descer do Copersucar naquela manhã, estava pisando em uma realidade muito diferente da que havia desejado para minha vida e para minha carreira: eu que queria ser campeão do mundo estava abandonando o meu mundo, não como um campeão, mas como um derrotado. O sentimento amargo daquela manhã me perseguiu por alguns anos: "Que perda de tempo! Doze anos andando em círculos para não dar em nada! Logo eu, que sempre levei o nome de Cristo para os quatro cantos do mundo!" Que papelão, que vergonha, que desperdício, tanto trabalho, tanta canseira e agora o fim!

Desempregado, cancelei a encomenda da Mercedes 500SLC a que tinha direito como piloto de Fórmula 1, coloquei minha viola num saco, voltei para o Brasil e comprei um FIAT de segunda mão... Cair na real e trocar a organização e competência inglesas pela burocracia brasileira foi um baita contra-choque cultural. Ficar a pé e ainda ter de brigar por uma credencial para assistir ao GP do Brasil me deram um tremendo baixo astral que só pôde ser neutralizado com a imensa força de Deus em quem sempre confiei. Foi Ele quem segurou a minha peteca emocional no momento mais escuro da minha existência. Depois que voltei da Europa, meu primeiro emprego foi de comprador e relações públicas da Eldorado, uma revenda FIAT em Brasília.

No final daquele ano de 1981, lancei o livro "Mais que vencedor", contando as muitas histórias que aconteceram comigo nas pistas. Depois comprei uma fazenda no norte do Goiás e plantei 50 mil pés de jojoba. Trabalhei 3 anos feito um condenado e vivi aventuras tipo Indiana Jones. Nas horas vagas, divertia meus 25 bóias-frias fazendo cavalos-de-pau num trator MF 65X chamado Agripino, ou descia ao fundo de um poço de 25 metros de profundidade para instalar uma bomba hidráulica, ou contava histórias sobre corridas e falava de Deus em igrejinhas do interior que não tinham pastor.

Trabalhei no controle de qualidade dos fornecedores e como piloto de provas no projeto de construção de cinqüenta carros da Fórmula Ford que a Glaspac, empresa especializada em fibra de vidro fez sob encomenda da Ford. O projeto era um aborto técnico, mas nós éramos pagos para executá-lo e não para dar palpites contrários. Voltei às pistas no Campeonato Brasileiro de Marcas em 1984. No fim do ano pintou uma chance de voltar a correr na Europa, mas na hora os patrocinadores tiraram o time de campo e eu fiquei a pé de novo. Desempregado, passei o ano de 85 jogando na Bolsa de Valores. Ganhei uma boa grana, mas quase pirei. Enquanto a Bolsa me ensinava de uma maneira prática porque a Bíblia diz: onde estiver o tesouro do homem, ali estará também o seu coração, passei a colaborar com o grupo de Atletas de Cristo de São Paulo, onde começavam a brilhar as estrelas de Silas e Müller.

O bom desempenho do grupo de São Paulo, aliado à grande experiência que pude acumular falando de Cristo em altas velocidades, nos 17 anos anteriores, me valeram o convite para assumir o cargo de diretor executivo de Atletas de Cristo, em março de 1986. Depois de orar e pensar muito, resolvi fazer a "loucura" de abandonar todas as minhas atividades rentáveis e assumir em tempo integral a administração material e espiritual de Atletas de Cristo. Foi necessário uma boa dose de fé para trocar tudo pelos 25 dólares por mês (30% do salário mínimo) que Atletas de Cristo podia me pagar a título de salário. Meu plano inicial era dedicar 3 meses do meu trabalho na montagem de uma infra-estrutura para a organização e depois procurar um emprego que me permitisse conciliar as duas atividades. Oito anos depois eu continuo me dedicando totalmente a Atletas de Cristo. Muitos esportistas tiveram um encontro com Cristo. Eles se reúnem semanalmente em 80 grupos espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Em 1988, a organização Atletas de Cristo foi considerada uma das mais eficientes do gênero em todo o mundo pela International Coalition of Sports Ministres. Dos contatos internacionais com líderes cristãos do mundo inteiro surgiram os convites para eu participar das Olimpíadas de Seul, em 1988, e da Copa do Mundo de 1990, na Itália, como capelão. Convites para fazer conferências sobre esporte e fé nos quatro cantos do mundo não pararam mais de aparecer e acabaram me transformando num missionário de tempo integral.

Muitos anos depois, ouvindo o testemunho de um goleiro em Portugal, vim a descobrir que aquele cara maluco (eu) que na década de 70 andava pilotando um carro de corrida a mais de 300 km/h pelas pistas de todo o mundo chamou a atenção do goleiro do Atlético mineiro, João Leite, que tinha encontrado com Cristo há pouco tempo. O que mais intrigou o jovem goleiro foi o fato de aquele piloto trazer sempre em seus carros, capacetes e macacões o slogan Cristo Salva. Na euforia da sua lua de mel com Deus - esta alegria do primeiro amor de todo ser humano que se encontra com Cristo - o goleiro comprou a idéia e apareceu em campo ostentando em sua camisa um Cristo Salva que teria passado desapercebido de muitos, se ele não fosse goleiro da Seleção Brasileira de 79, 80 e 81. O assunto ganhou logo as manchetes dos principais jornais e revistas de todo o país, não pelo fato de os jornalistas estarem tão interessados no cristianismo, mas pelo que a "novidade" representava em termos de curiosidade: isso nunca havia acontecido no futebol! Depois da euforia inicial, o assunto cairia na rotina. Mas como toda ação provoca uma reação igual em sentido contrário, o "irmão" goleiro voltou às manchetes. Por causa da polêmica gerada, as autoridades desportivas forçaram-no a retirar o Cristo Salva da camisa, alegando que a legislação não permitia publicidade nos uniformes. Agora, sim, era o fim do cristianismo no futebol: "um jogo para homens onde não há lugar para esse tipo de coisa!".

Um jovem centroavante que despontava como grande artilheiro, lá pelos lados de Goiás, teve uma experiência com Cristo e mudou de vida sem mudar de profissão. Ele continuou subindo na carreira e chegou até a vestir a camisa da Seleção Brasileira. Um dia ele leu no jornal a resposta do goleiro sobre Cristo Salva na camisa: "Tiraram o nome de Cristo da minha camisa, mas não o tiraram do meu coração". Quando os dois se encontraram tinham muita coisa pra conversar e juntos resolveram erguer a bandeira de Cristo contra tudo e todos, no controvertido meio futebolístico brasileiro. Ficaram conhecidos por milhões de torcedores como: João Leite, o goleiro de Deus, e Baltazar, o artilheiro de Deus.

Só então percebi todo tempo em que vivi, desde meu encontro com Cristo, em 1957, a experiência do amor à primeira vista, quando assisti a minha primeira corrida de automóveis na inauguração de Brasília. As corridas de bicicleta, skate, autorama, carrinho de rolimã, a estréia nas pistas com um carro construído no fundo de um quintal. Os títulos de campeão brasileiro e primeiro no ranking dos pilotos brasileiros, a ascensão da Fórmula Ford até a Fórmula 1, sempre correndo no vácuo de Cristo, nada disso foi em vão. Mesmo que eu tenha tido de comer "o pão que o diabo amassou", na Fórmula 1, o fim da minha carreira contribuiu, de alguma maneira, para o início de Atletas de Cristo. Como uma semente que, morrendo na terra, germina em forma de planta e dá muitos frutos. Mas Atletas de Cristo não nasceu no coração de homens e, sim, no coração de Deus. Foi o próprio Deus que mandou gente como Eddie Wazer, Abrahão Soares e George Foster para incentivar João Leite e Baltazar. Junto com muitos outros pioneiros eles fundaram este movimento chamado Atletas de Cristo no Brasil. Hoje somos mais de 3 mil atletas cadastrados nas mais diversas modalidades, levando a mensagem de Cristo através do esporte.

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