Correndo
por fora no Rally dos Sertões
Iguaçu
Paraná de Souza |
Iguaçu
Paraná de Souza é diretor da Yguaçu Paraná Expedições,
uma empresa especializada em expedições, roteiros de aventuras. |
Fui
convidado para participar profissionalmente da 10ª edição
do Rally dos Sertões. Como jipeiro experiente só me faltava
essa competição e ali estava a oportunidade de participar. O Sertões
exige uma boa estrutura de apoio para os competidores, e o Marco
Lehmkuhl, representando a MOTOR ON LINE, estava com uma equipe
grande na qual eu fui contratado para pilotar uma L200 e chefiar
a equipe de apoio. Eram 2 carros de apoio e 3 carros na competição
(2 Mitsubishi Evolution e uma Mitsubishi Io). Fomos com uma grande
responsabilidade de fazer esses carros chegarem ao final. A equipe
de apoio é fundamental pra isso, então não existe possibilidade
de erros.
Os apoios
precisam chegar antes dos competidores ao final de cada etapa
de forma a executar reparos e deixar o carro pronto para a próxima.
Para isso,
têm que andar na mesma velocidade que os carros da competição.
Não é obrigatório, mas devido à grande quilometragem para
fazer, tem que andar bem rápido pra chegar a tempo. Muitas vezes
o caminho que os apoios fazem é até mais longo do
que os competidores estão fazendo. São muitos carros, é
um comboio de apoio a toda velocidade para chegar a tempo, o mais
tardar junto com os carros de competição da sua
equipe.
Nos Sertões,
os apoios acabam ajudando todo mundo e não só a sua equipe. Ser
apoio em uma prova dessas é, muitas vezes, mais perigoso do que
estar competindo. Os pilotos têm cintos de segurança de 4 pontos
e uma planilha que avisa onde você está e o que vai encontrar
pela frente. Já o apoio não, o carro geralmente é uma caminhonete
convencional, sem acessórios. E você tem que andar bem rápido,
não tanto quanto eles, mas mais rápido do que você andaria normalmente
numa prova dessas. Você tem que correr porque as distâncias
são grandes e o tempo é curto.
A 10ª
edição do Rally dos Sertões foi muito bem
organizada. Os apoios tinham regras a seguir também, como
por exemplo, andar sempre com luz acesa durante o dia e com rádio
PX ligado no canal da prova. Haviam 3 canais de comunicação:
um da organização, um dos competidores e um dos apoios. Assim
ficou mais seguro porque todos sabiam o que estava acontecendo
pela frente, pois para os competidores a prova é fechada, mas
para o apoio, a estrada é aberta. Isso significa que pode vir
carro no sentido contrário. A qualquer momento pode-se encontrar
uma carroça ou um caminhão na estrada, ou seja, tudo que passa
por ela normalmente. Então, nos deslocamentos de apoio, todos
ligavam o rádio e os da frente iam passando as dicas e informações
relevantes como curva, carro no sentido contrário, etc.
Um
dia, após a prova especial nos deslocamos uns 300 km até uma cidade
chamada Janaúba. Chegando lá ainda tivemos que fazer um outro
deslocamento de mais 150 km por terra, inclusive os carros de
competição. Os competidores chegaram tarde dessa etapa, e tiveram
que fazer o deslocamento no escuro. Andando a quase 200 km/h e
com pressa em chegar rápido para fazer a manutenção
e reparos nos carros, os pilotos acabaram danificando seus carros
mais no deslocamento do que na própria prova. Mesmo porque,
para os deslocamentos não há uma planilha detalhada.
A
competição inteira andava na frente e os apoios atrás. A estrada
de terra estava muito ruim, tinha virado uma trilha com muita
poeira, e devido à escuridão aquela poeira se tornou uma nuvem
densa, onde não se enxergava nada. Começamos a passar um para
o outro, pelo rádio, as situações de dificuldade e principalmente
a localização das pontes, mas mesmo assim ainda
estava muito difícil. Passamos a marcar tudo por código. Uma hora
passamos por um Fusca perdido e pedimos passagem. Após a ultrapassagem
havia uma curva extremamente fechada e um barranco. Não deu tempo
para desviar e quando eu vi já estava subindo o barranco. Foi
o tempo de subir e fazer a manobra pra descer. Quando desci tinha
um palanque e para não bater nele, dei a ré. Foi tudo sem pensar:
dei a ré, coloquei a primeira marcha muito rápido e quando vi
o carro de trás já estava colado em mim. Numa situação como essa
é necessário ser bastante frio, não dá nem para respirar! O carro
que estava atrás era um Troller e pude ver pelo vulto que ele
capotou a uns 100 metros. Mais à frente um outro caminhão de apoio
também capotou. Depois de ajudar os companheiros acidentados chegamos
cançados ao acampamento, onde dormíamos
muitas vezes na caçamba das camionetes não mais
que 3 horas por noite.
O Rally
dos Sertões foi adrenalina do começo ao fim, e além
de tudo foi uma experiência inesquecível. Valeu a
pena! Para quem gosta de aventura, participar do Sertões
é um desafio imperdível. |