Por
dentro de um Stock Light: impressões ao pilotar
Confesso
que é muito mais cômodo comentar corridas pela cabine da Band
do que tentar domar este potente e nervoso Stock Light.
A convite
do piloto Murillo Macedo que encontrava-se em recuperação de uma
delicada cirurgia, participei da prova da Stock Light em Brasília,
(7ª etapa do Campeonato 2006) no comando do carro de numero
54 da equipe JB Racing. O primeiro contato com o carro não foi
muito animador, haja visto que este carro não tem muitas horas
de vôo, pois não ficou pronto na primeira etapa em São Paulo e
de lá prá cá os mais variados problemas enfrentados pela equipe
acabaram por deixar o chefe de equipe Celso Jordão sem nenhuma
base de ajuste. Além disso, uma batida na 2ª etapa praticamente
destruiu o carro e isso, somado a enfermidade do Murillo, impediu
que o carro participasse regularmente das etapas já disputadas.
Assim, aceitei o convite e cheguei em Brasília disposto a ajudar
a equipe a desenvolver e testar alguns ajustes, partindo do zero.
Percebi
logo de cara que não seria uma tarefa fácil, pois de imediato
o carro se mostrou avesso a ajustes e com uma enorme tendência
de sair de frente. O carro é tão dianteiro que até provocou um
comentário do Jorginho Freitas, chefe de equipe do já campeão
antecipado Marcos Gomes. "Não sei mais o que fazer para colocar
o carro numa trajetória neutra, sem que ele role de frente",
disse Jorginho Freitas.
Bom, se
ele disse isso, para a nossa equipe já era um sinal evidente que
estávamos no caminho certo, pois reclamei do começo ao fim junto
ao Jordão dessa tendência dianteira do carro e quem dirige carro
de corrida sabe que é impossível guiar assim, você tem que tirar
o pé do acelerador, deixar o carro voltar à trajetória ideal para
só depois acelerar, imagine a perda de tempo em cada curva e some
isso ao tempo total de uma volta.
Utilizamos
todos os treinos para testar molas, calibragens e principalmente
tentar entender o comportamento do carro. Na classificação uma
imprevisível chuva caiu logo após a minha entrada na pista para
2 voltas de classificação (fui o segundo a entrar na pista) e
consegui o 3º tempo no grid, até que três pilotos abortaram
suas primeiras voltas, o que os recolocaria no final do grid para
mais uma tentativa. A estratégia deu certo e eles entraram na
minha frente - larguei em 6º.
Independente
da posição no grid o que mais importou para a equipe foi o excelente
tempo obtido na minha primeira volta da classificação, ficando
há apenas 7 décimos de segundos do tempo de Marcos Gomes (que
sagrou-se campeão antecipado), sem dúvida uma vitória da equipe,
pois o Jordão acertou a mão e me entregou um carro muito bem equilibrado.
A corrida
foi um capitulo a parte, fiquei espantado com a maneira com que
essa garotada conduz um carro tão potente e confesso, isso me
deixou muito preocupado. Imaginem que estes garotos já não tão
garotos assim, proporcionaram para o público um espetáculo digno
de um campeonato de demolição, do tipo "Destroy-Car", obrigando
por 4 vezes a entrada do safety car para conter os ânimos, juntar
os cacos e recompor as barreiras de proteção. Um horror, sem dúvida!
Uma característica
marcante no Stock Light e de fácil percepção é a rapidez com que
o carro perde a aderência dificultando ao máximo a possibilidade
de andar rápido. O piloto que perceber isso com mais clareza e
se ajustar à condição de momento do carro, freando antes, contornando
mais lento dentro das possibilidades dos pneus, com certeza chegará
ao final da corrida com enormes possibilidades de vitória.
Assim,
ao final dos 40 minutos regulamentares de prova, sem nenhuma conseqüência
física para os envolvidos nos acidentes, porém com um enorme prejuízo
material, terminei na 10ª posição.
Considero
minha participação e este 10º lugar uma vitória pessoal,
pois aos 52 anos, há dois anos parado, largando na sexta fila,
sendo atropelado por um afobado Leonardo Burti quando ocupava
a 4ª posição na 6ª volta, voltando em último e escapando
de 5 acidentes, sem dúvida foi uma vitória inesquecível.
Eduardo
Homem de Mello
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