Crônicas-

A realidade do preço dos combustíveis

Francisco de Deus

Há algum tempo circulava na Internet uma campanha para tentar mobilizar a população para não abastecer em postos da rede BR (Petrobras), em protesto ao preço dos combustíveis. As pessoas que idealizaram esta campanha certamente conhecem pouco ou nada da realidade do mercado de combustíveis em níveis nacional e mundial. Em primeiro lugar, não dá para comparar preços com base unicamente no câmbio de moedas entre países, pois isto não faz o menor sentido. Senão, ao viajarmos ao exterior não comeríamos, nem beberíamos sequer uma cerveja, pois em países onde o câmbio nos é desfavorável (Ex: EUA, Inglaterra, França, Alemanha, etc), o preço de uma refeição, uma cerveja, até mesmo uma coca-cola traduzidos em reais nos faria perder o apetite ou passar a sede imediatamente. Em segundo lugar vem outra questão: o preço dos combustíveis na bomba nada tem a ver com o valor que a Petrobras recebe na porta da refinaria. Sobre este são adicionadas margens de lucro dos transportadores, das distribuidoras, dos postos e, a maior "tungada" de todas no bolso do consumidor: a carga tributária exorbitante adicionada pelo governo, nas esferas federal e estadual. O somatório de tudo isto é o que pagamos pelos combustíveis na bomba.

O Brasil exporta gasolina e a importação de diesel e QAV é feita praticamente só pela Petrobras para complementar o que ela ainda não consegue produzir para atender ao mercado. Desta forma, praticamente toda a gasolina e diesel comercializados pelas distribuidoras são comprados da Petrobras a campanha não afetaria em nada o seu caixa, pois o que a BR Distribuidora deixasse de comprar seria comprado pelas concorrentes.

O único efeito prático da campanha para não abastecer na rede BR seria o fechamento de alguns postos desta bandeira cuja situação financeira já esteja a perigo, agravando ainda mais o quadro de desemprego no nosso país. Mesmo assim, somente aqueles cujo dono possui apenas um ou dois postos, pois as grandes redes costumam trabalhar com várias bandeiras e o lucro adicional dos postos de bandeiras concorrentes cobriria a perda de receita dos postos BR. Além disso, poderia causar a redução do lucro ou até mesmo um prejuízo na BR Distribuidora, com um correspondente aumento da lucratividade das concorrentes. Estaríamos, assim, prejudicando uma empresa 100% nacional em favor de outras que ao final do exercício fariam com uma grande alegria a remessa desse lucro extra para suas matrizes no exterior. E o governo, este então nem sequer tomaria conhecimento, pois a sua arrecadação seria exatamente a mesma. Que grande negócio, hein?

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