Garagem do Bellote-

Rebelde sem causa (Little Bastard)

Por Renato Bellote Gomes

O dia 30 de setembro de 1955 entrou para a história. Nessa data, um jovem ator acelerava um carro-esporte em uma estrada deserta da Califórnia - a Highway 46 - tendo à sua frente a visão do sol poente. Perto dali, na intersecção com a 41, um outro jovem seguia em direção ao seu destino. Perto das seis da tarde, dois ícones surgiram e passaram a ser associados durante os anos subseqüentes: James Dean e o Porsche 550 Spyder. O cruzamento hoje em dia é cultuado pelos fãs, que deixam flores e mensagens. Como se Dean ainda passasse por ali.

O 550 foi apresentado à imprensa no Salão do Automóvel de Paris, em 1953. A empresa alemã criou o carro para competição, sendo o projeto de número 550 da Porsche. O responsável pelo desenvolvimento do veículo foi Wilhelm Hild, que juntou a idéia do chassi tubular com alguns conceitos do modelo 356.

O carro trazia algumas características inovadoras para a época, entre elas a carroceria de alumínio, que deixava o pequeno Porsche com apenas 550 kg, com perfeita divisão de peso entre os eixos. O modelo trazia ainda, no início, o motor boxer 1500 Super, com 78 cavalos de potência, logo apimentado com a adoção de carburadores duplos Solex e duplo comando de válvulas, que desenvolviam 110 cavalos. Em 1956, uma nova modificação no propulsor: um motor com bloco e cabeçotes de liga leve, desenvolvia 135 cavalos de potência, mostrando que o bólido alemão não estava pra brincadeira.

Mas foi nas pistas que o 550 se consagrou, e escreveu seu nome na galeria dos grandes vencedores. Só em Le Mans, a equipe germânica se saiu vitoriosa nada menos do que oito vezes. Em 1954, mais dois modelos se sagraram vencedores na épica Carrera Panamericana. Para fechar com chave de ouro sua carreira oficial nas pistas, o Spyder ainda venceu a prova Targa Florio, com 15 minutos de vantagem sobre o 2º colocado!

O 550 Spyder teve apenas 90 unidades fabricadas e calcula-se que um modelo original esteja cotado em 500 mil dólares. O mercado norte-americano oferece várias opções de kits em fibra de vidro e, no Brasil, a Chamonix, empresa localizada em Jarinu, fabrica sua réplica zero quilômetro, com qualidade e bom acabamento, desde 1987.

Para o gerente de projetos Fábio da Silva Borges, o clássico significa muito mais do que simplesmente um carro de competição. "Sempre gostei muito de automóveis e, como sou o caçula da família, tive contato com os carros dos meus pais e irmãos", conta. "Além do mais, passei grande parte da minha infância na oficina do meu pai", revela. A paixão acabou tomando forma em meados de 2002. "Comprei um kit da Brauna Carrocerias - mais conhecido como o Augusto da Vila Carrão - e montei 100% do carro", diz. A riqueza de detalhes impressiona. "Apesar de ser tratar de uma réplica, tentei deixar com um estilo vintage dos anos 50. As pedaleiras são cópias feitas artesanalmente e os retrovisores externos foram moldados em argila, para posterior fabricação do molde em fibra de vidro", finaliza.

O resultado é dos melhores. Além do estilo baixo e do ronco instigante do motor boxer, é possível perceber como o Spyder é uma referência para muita gente. Alguns associam o carro ao ator norte-americano e outros olham sem parar, pensando talvez que este seja um autêntico modelo germânico. Mas os detalhes não param por aí, como o proprietário foi me contando pelo caminho. "Radiador externo de óleo, bomba externa de gasolina, posição da alavanca de câmbio, macaco modelo original, buzina estilo original, plaqueta de identificação da carroceria e chassis, plaqueta de fabricante da carroceria, freio de mão original, rodas de cinco furos, embreagem hidráulica de época, pára-brisas pequeno, posição dos botões do painel e, para finalizar, cópias fiéis das lanternas dianteiras e traseiras utilizadas no modelo estão sendo importadas dos EUA", ressalta. Isso é que é paixão.

O ronco do motor é fruto de 1.800 cm³ de cilindrada, equipado com um par de carburadores Solex P-II 4. Com essa combinação perfeita, o clássico só é abastecido com gasolina Podium.

Fábio gosta tanto do modelo que não se separou dele nem no dia do casamento. "Fui com minha esposa até o local da festa a bordo do Porsche", relembra com bom humor.

Como todo apaixonado por carro, ele foi atrás de um clube para curtir o hobby. Como não encontrou nenhum, acabou fundando - juntamente com outros amigos - o Spyder 550 Vintage Club, que reúne réplicas do modelo, além do 356, Super 90 e Speedster. No site www.spyder550vintageclub.com.br é possível dar uma olhada nos eventos e passeios que o clube promove, visitar links, participar do fórum de discussões e comprar alguma coisa na lojinha virtual. O visitante pode até ler o informativo "Little Bastard", com tudo o que acontece por lá.

A sensação de andar no carro é muito boa. Para entrar, um pouco de ginástica. Primeiro coloquei a perna direita. Em seguida, foi a vez da esquerda e pronto. A posição de dirigir é extremamente baixa e o motor ronca alto atrás do motorista. Me senti - verdadeiramente - no grid de largada.

A certeza que fica é que o 550 Spyder desta matéria é uma verdadeira volta no tempo. Um ícone da Porsche, das pistas e símbolo eterno de liberdade e juventude. No caso de Fábio, um casamento perfeito. Literalmente falando, é claro.

O 550 Spyder tornou-se um mito no mundo todo, por seu estilo rebelde, comportamento esportivo e uma magia que o manteve jovem no decorrer desses 50 anos, assim como James Dean, que permanece imortal com seu "Little Bastard".

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