Garagem do Bellote-

Um V8 cheio de estilo

Texto e fotos: Renato Bellote Gomes

No ano de 1973, um conjunto entrou para a história da música brasileira. O recém-formado Secos & Molhados vendeu mais de um milhão de cópias do disco de estréia. Sua canção "O vira" ficou em primeiro lugar entre as cem músicas mais executadas no país. Nesse mesmo ano, a Ford lançou um novo carro, com aspecto jovem e pedigree norte-americano. O Maverick chegava para brigar de igual pra igual com Opala e Dodge. O motor de seis cilindros em linha não emplacou, mas o V8 se tornaria referência de desempenho e performance.

É o caso do carro que ilustra essa matéria. Quem anda pelas ruas do bairro de Moema, em São Paulo, pode se surpreender com um belo exemplar azul em meio ao trânsito lento, com rodas esportivas gaúchas e ronco grave. Ah, sem esquecer do toque rebelde da bandeira confederada, colada ao lado do bocal do tanque de combustível.

O carro pertence a um apaixonado e conhecedor de automóveis. O consultor de informática aposentado Silvério Ortiz Júnior, adquiriu o modelo há pouco mais de três anos, e nos contou, durante uma tarde ensolarada, a história desse mito nacional.

O interesse por carros antigos surgiu há muito tempo. Antes de falar do Ford, Ortiz abriu o porta-luvas e nos mostrou um antigo álbum de fotografias. As imagens mostram seu primeiro clássico, um Jeep M-151 1962, projetado para a guerra do Vietnã. "Comprei o Jeep em 1979. Na época havia acabado de chegar do Canadá", conta.

Após mais de 18 anos com o utilitário, ele se interessou por uma macchina italiana. O Alfa Romeo Spider 1974 foi a segunda aquisição. O carro recebeu uma nova pintura, com nada menos do que oito camadas do vibrante vermelho rosso, e fazia sucesso nos passeios de final de semana.

De volta ao Maverick, entre uma foto e outra, Ortiz nos mostrou os detalhes e particularidades do veículo. Um leigo pode pensar que esse é um modelo GT, mas ele é mais do que isso. Na verdade, o carro é, originalmente, um SL - Super Luxo - montado em outubro de 1973, em São Bernardo do Campo, como diz a plaqueta de identificação na porta do motorista, onde a letra R indica ser este um legítimo V8.

O estilo de "muscle car" ficou ainda mais evidenciado pelas rodas de época, calçadas com pneus Hankook, nas medidas 245/60 atrás e 205/70 na frente. A ponteira dupla de escapamento deixou o carro com um belo visual e os faróis auxiliares dentro da grade dianteira, demonstram que ele não está pra brincadeira.

Debaixo do capô, o propulsor Ford 302-V8 Canadense funciona "redondo", sem folgas ou ruídos. A observação fica por conta de um dispositivo localizado no cofre do motor, pelo qual se pode dar partida no carro, desde que a chave esteja no contato.

No meio da matéria, algo engraçado ocorreu. "Salve o veoitão...", disse um motorista que passava, colocando a cabeça pra fora do carro. Ortiz nos contou que isso é algo comum. Sempre que sai pra dar uma voltinha, aparece algum admirador. "Quase todo mundo tem uma história com o Maverick", diz com um largo sorriso. "Eu não tive. Naquele tempo, gostava mais do Opala SS", confessa.

Se o lado de fora já agrada, espere para dar uma olhada no interior do veículo. Os bancos originais receberam um novo revestimento e acomodam o motorista de forma confortável. A posição de dirigir é baixa, sendo possível observar as travas de capô entre uma mudança e outra de marcha. Um deleite para os olhos. O "cockpit" conta, ainda, com um console central, equipado com manômetro de pressão do óleo, temperatura, voltímetro e vacuômetro. O conta-giros sobre a coluna de direção - herança do GT - também foi colocado pelo zeloso proprietário. No centro do painel, um toca-fitas TDK dá o toque final ao carro.

O leitor deve ter reparado na antena localizada do lado direito do porta-malas. É do rádio PX, instalado abaixo do painel e utilizado somente na estrada. "Os caras ficam loucos quando aparece o Maverick na freqüência", diz Ortiz. Bandeira confederada e rádio? Será que este carro já esteve em Hazzard?

De qualquer modo, o modelo marca presença quando passa pela rua. "É um SL/GT", brinca o dono. Chegamos à conclusão de que ele é um Super Luxo com um toque de esportividade. Enfim, o carro reúne algumas características que o tornam único, um veículo personalizado e com estilo de sobra.

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