Esportividade
sem capota
Texto
e fotos: Renato Bellote Gomes
Os
carros conversíveis sempre despertaram a atenção e o fascínio
das pessoas. Imortalizados nas telas de cinema e também pela publicidade,
conseguiram aliar uma idéia de liberdade e conforto. Até os veículos
esportivos entraram na onda e arrebataram um público próprio.
No
Brasil nunca houve muita tradição neste segmento. O Karmann-Ghia
fez sucesso no final dos anos 60 e teve uma produção limitada.
Na década seguinte, surgiu um sucessor para ocupar essa posição:
o Escort XR3, em abril de 1985. Um desses exemplares ilustra a
matéria e o leitor fica conhecendo um pouco mais a partir de agora.
Os
esportivos da década de 80 vêm ganhando espaço nos encontros e
têm se tornado carros valorizados no mercado. Após um período
de abandono, hoje em dia é um pouco difícil encontrar um deles
em bom estado. A maior parte sofreu com o passar dos anos e a
rotatividade de proprietários.
Bom,
para começar a história, encontrei esse Ford há mais ou menos
um ano. Na ocasião escrevi sobre a "Carreata do Agasalho" - evento
realizado no bairro paulistano de Moema - e o carro despertou
minha atenção. O tempo foi passando e, meses e meses depois, consegui
fotografar e escrever sobre a máquina.
O
consultor automotivo José Ricardo de Oliveira é o segundo dono
desta relíquia. A paixão pelos clássicos vem de longe. "Comecei
a me interessar por carros antigos desde pequeno. Sempre me atraiu
a história que cada um deles tem para contar", diz.
Antes
de abordar os aspectos deste modelo, vale a pena se situar historicamente.
O pessoal na faixa dos quarenta anos sabe bem do que estou falando.
Em 1985, foi realizada a primeira edição do Rock in Rio. Além
disso, bandas como o Ultraje a Rigor, Paralamas do Sucesso e Legião
Urbana - só para citar três - estouravam nas paradas musicais
de todo o país.
Na
política, o período pós-ditadura deu à juventude um leque de novas
oportunidades e uma sensação de bem-estar que não se via há muito
tempo por aqui. Nesse contexto, o Escort XR3 era uma excelente
- e cara - opção para o público jovem, juntamente com Gol GT,
Passat Pointer e Monza S/R.
O
modelo desta reportagem dá um show de nostalgia. Saias laterais,
rodas de 14 polegadas de desenho exclusivo e quatro faróis auxiliares
demonstram a esportividade da época. Tudo isso com o estilo da
capota de lona preta que, apesar de manual, deixa o carro com
um belo perfil.
O
charme de andar com o vento nos cabelos custava ainda mais caro,
além de aumentar o peso da carroceria. Um detalhe que notei foi
o pequeno vidro traseiro com desembaçador, ao invés do uso do
plástico, que prejudicaria sobremaneira a visibilidade.
O
exemplar de José Ricardo tem assentos confortáveis, o excelente
volante de boa pegada - e pequeno diâmetro - que fez sucesso,
e uma posição de dirigir privilegiada. O logotipo da traseira
foi trocado para torná-lo idêntico ao XR3 europeu. Por esse motivo,
traz a inscrição Cabriolet.
O
motor de 1,6 litro e 82 cavalos de potência - bastante criticado
na época - não demonstra sinais de cansaço e o torque de 12 kgfm
dá conta do recado. O acabamento, por outro lado, é uma das preocupações
futuras do proprietário. "Por enquanto não precisei de nenhuma
peça, mas sei que, quando precisar, vou sofrer um pouco, pois
o carro se tornou muito raro", comenta.
E
por falar em cuidado, o brilho da pintura não passa despercebido.
A cor vermelha realça o espírito esportivo da versão. Ao volante,
dá pra entender porque ele seduzia centenas de jovens na década
de 80.
Um
dos cuidados de José Ricardo é, justamente, com a lavagem e conservação.
"Sempre acompanho as lavagens dos meus carros, para que a secagem
seja feita com muito carinho", conta. "Se ficar um acúmulo
de água, corre o risco de corrosão", complementa.
Questionado
sobre a participação em concursos, ele respondeu com bom humor.
"Tenho uma empresa chamada ZR Soluções Automotivas, que atua
na área de logística em eventos. Então, ao invés de participar,
fico sempre trabalhando", conta. "Mas a expectativa é que
o carro se destaque nos futuros encontros", finaliza.
Esportividade,
bom gosto e muito estilo. O XR3 conversível marcou época e já
figura entre os raros carros nacionais. Mais do que isso, ele
proporciona uma sensação de liberdade e nostalgia. Essas coisas,
definitivamente, valem a pena.
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