Um
mito italiano
Texto
e fotos: Renato Bellote Gomes
"O
conceito é bem simples: um bom chassi feito em Modena pelos melhores
engenheiros da Itália, a força bruta de um enorme motor V8 e uma
carroceria moldada nos estúdios de Turim. Junte tudo isso num
só carro e você terá o melhor de dois mundos". A frase acima
está escrita em uma grande placa colocada ao lado do clássico
desta matéria.
Vou
começar do início, pois o leitor deve estar um pouco confuso.
No Domingo de Páscoa de 2007 tive o prazer de conhecer - e dar
uma voltinha - em um dos esportivos mais cobiçados e exclusivos
do planeta: o De Tomaso Pantera GTS. Nem a chuva fina que caía
em São Paulo estragou o passeio, como pode ser visto pelas fotos.
O
Pantera, como foi bem filosofado no primeiro parágrafo, surgiu
através do talento de Tom Tjaarda e da união do estilo italiano
com a força bruta dos motores norte-americanos. Tudo isso temperado
com um pouco da personalidade do argentino Alejandro De Tomaso.
No
Brasil existem apenas seis exemplares do esportivo. O colecionador
e proprietário - que preferiu ficar no anonimato - é um dos maiores
conhecedores do modelo no país e adquiriu essa versão GTS 1974
há 22 anos. Ele me contou que os carros vieram de Angola na década
de 70 e cinco deles estão em São Paulo.
Para
começar, vou falar do lugar onde o bólido descansa durante a semana.
A garagem fica embaixo de um prédio residencial na zona sul da
cidade. Quem passa pela rua não imagina que ali estão guardadas
tantas raridades. O lugar é todo decorado com quadros, pôsteres
e miniaturas. Confesso que me senti no paraíso.
Bom,
chegando ao local, descemos a rampa e o dono começou a descobrir
o modelo, protegido da poeira e do tempo com uma capa. Não dá
pra ficar indiferente quando se está tão perto de um "animal selvagem"
como esse. A pintura vermelha enfeitiça qualquer um que goste
verdadeiramente de carros.
O
motor original 351 foi substituído por um 427 de alumínio. Carburador
quadrijet, bielas e virabrequim de aço forjado da Crower e comando
de válvulas Crane deixaram o carro com desempenho apimentado.
Para segurá-lo nas curvas, rodas de 17 polegadas - no lugar das
de 15 - calçadas com pneus Dunlop. Quer saber como ele anda? Então
leia o próximo parágrafo.
Andando
pela rua se nota a curiosidade das pessoas. O rugido da fera abre
caminho no trânsito. O motor de 440 cv fica posicionado bem atrás
do motorista e do passageiro. Basta dar uma olhadinha no retrovisor
para vê-lo ali, de carona. A sensação é que ele empurra os ocupantes,
literalmente falando.
O
painel tem instrumentação completa, informando sobre tudo o que
acontece durante o passeio. Mas o condutor só precisa ficar atento
ao conta-giros, para engatar a próxima marcha na grelha próximo
das 6000 rotações. A primeira, aliás, é invertida.
A
chuva intermitente impediu uma acelerada mais forte, mas deu pra
sentir que o torque é brutal. Uma pisada de leve no acelerador
já basta para destracionar o carro e colar as costas contra o
banco. A velocidade sobe de forma inacreditável. Não é à toa que
ele ocupa o 14º lugar entre os mais rápidos do país, marca
obtida na prova de Quilômetro Lançado.
Durante
as reportagens, sempre aparece alguém para fazer perguntas ou
tirar fotos. A curiosidade é geral. Desta vez, um ciclista elogiou
o carro e levou algumas lembranças no celular. "O pessoal
costuma perguntar se é uma Ferrari", conta o proprietário
com bom humor. "Quando houve a abertura das importações,
no início dos anos 90, teve gente que me parava e perguntava se
o carro era novo", complementa. Na verdade, os traços
do estúdio Ghia são atuais até os dias de hoje.
Depois
das fotos, hora de voltar pra casa. A máquina foi devidamente
enxugada e guardada em seu lugar de honra na garagem. As lembranças,
porém, ficaram na memória. Afinal, dar uma volta em um "felino"
arisco como esse é algo realmente inesquecível.
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