Puro-sangue alemão
Texto e fotos: Renato Bellote Gomes
Na véspera do feriado de 9 de julho o sol brindou os moradores da cidade de São Paulo. O dia amanheceu com um belo céu azul e temperatura agradável. O tempo ideal para viajar? Que nada. O céu de brigadeiro estava convidativo para fotografar um clássico com 4 rodas.
Apesar do clima quente, as ruas estavam tranqüilas - para um feriado prolongado - e subi pela Avenida República do Líbano em direção à zona oeste. No rádio do carro um CD dos Beatles para descontrair. É impressionante como o quarteto britânico combina com dias de sol.
Chegando ao local combinado fiquei frente a frente com a máquina. A réplica do Porsche 718 é tão perfeita que pode até ser chamada de recriação. Aliás, esse kit é importado da Inglaterra e exigiu muitas horas de trabalho e acerto.
A história do modelo é tão sensacional quanto suas linhas. Ele teve o encargo de substituir o mitológico 550 Spyder. E cumpriu a tarefa com perfeição. Lançado em 1956, o pequeno veículo de dois lugares logo mostrou seus predicados nas pistas de corrida.
A tradicional Targa Florio foi umas das primeiras conquistas do 718. Os pilotos da escuderia alemã venceram 3 vezes por lá. Esta prova é conhecida pelo número de curvas: mais de 5 mil em todo o trajeto. Só um bólido versátil para chegar na frente e deixar os adversários comendo poeira.
Outra conquista histórica foi em Sebring, na prova de longa duração, no ano de 1960. O modelo seria produzido até 1962 e, por sua vez, daria lugar ao 904. Mas essa é outra história. Voltemos ao exemplar da matéria: o modelo pertence ao advogado, que preferiu ser identificado apenas como Omar, e esbanja elegância. "Na verdade foi um sonho de juventude", conta com brilho nos olhos. "O kit foi adquirido em 2003 e contou com dois anos de trabalho duro para a montagem", salienta.
Agora vamos deixar de falar um pouco da parte técnica para dar uma voltinha. Adoro essa parte do trabalho. A chave externa foi virada e liberou a linha de combustível. Como nos carros de corrida. Alguns segundos antecederam a partida. Silêncio total no ar.
O motor boxer acordou na hora. O ronco grave ecoou pelas paredes aumentando sua intensidade. Algumas bombadas e a adrenalina subiu, juntamente com o ponteiro do conta-giros. Até fiquei esperando o chefe da equipe Porsche aparecer por ali. Coisas da imaginação.
O motor de 1600 cm³ de cilindrada recebeu dois carburadores Weber 40, além dos cabeçotes trabalhados. "O carro conta com freios a disco na dianteira e tambor na traseira", diz. O detalhe fica para as "panelas" de freio, originais do Porsche 356.
O cockpit oferece tudo que o motorista - ou melhor, piloto - precisa para se divertir nos finais de semana. O pequeno volante Momo tem boa pegada e traz o brasão da marca alemã no centro. O banco concha tem um relativo conforto e o retrovisor no centro do painel dá o toque de mestre ao clássico.
Circulando pelo bairro de Pinheiros o motorista percebe como este veículo é um polarizador de atenções. Tem gente que olha pela sacada do apartamento, outros abrem o vidro com película escura pra ver melhor e teve até um passageiro que quase caiu da janela para observar a máquina passando.
As ruas apertadas não permitem muita empolgação. Porém, é possível perceber que o 718 tem potencial de sobra. O carro participou da última edição da Subida Internacional de Montanha, marcando um bom tempo em sua categoria.
Após despejar um pouco de nostalgia no ar, manter o giro alto e curtir a paisagem quase sentado no chão, o passeio chegou ao fim. Imagino a sensação dos pilotos da época, já que o pára-brisa é baixo e o vento vem todo na direção do condutor. Mas quem se importa? Andar em um carro desses é, literalmente, voltar no tempo.
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