Ficha técnica-

O que considerar na hora de comprar um carro usado

Reportagem: Flávio Miranda / Renyere Trovão
Gazeta do Povo
Fotos: MOTOR ON LINE

Antes de decidir pela compra de um automóvel usado pelo melhor preço ou pela aparência impecável é importante tomar algumas precauções.

A primeira regra do bom comprador é verificar a procedência do carro e a confiabilidade de quem está vendendo. Determinados cuidados evitam, por exemplo, que se compre um automóvel clonado (veículo roubado e que esteja utilizando a documentação de um modelo semelhante) ou com motor em "fim de carreira". Também ajudam a identificar os micos, termo utilizado pelos revendedores para indicar os modelos que já estão fora do mercado e com alta depreciação.

Outro conselho é tentar obter garantias e saber a quem recorrer se ocorrer algum problema. O Código de Defesa do Consumidor exige que os estabelecimentos dêem a garantia de motor, câmbio e diferencial por pelo menos 90 dias. É possível encontrar lojas que estendam a assistência mecânica para motivar a fidelização do cliente. Os feirões e os vendedores particulares requerem cuidados redobrados. Como a negociação ocorre sem a figura do revendedor, não há relação de consumo como a estabelecida no Código do Consumidor e, portanto, não existe qualquer tipo de garantia legal. Nas negociações feitas diretamente entre particulares, o coordenador de veículos do Detran-PR aconselha o acerto final na casa do vendedor. "Muitos são lesados por comprar carro em feirões ou em anúncios. Às vezes gostam do automóvel, se empolgam com o preço e fecham o negócio com pressa, em qualquer lugar", diz Cícero Pereira da Silva.

Além dos cuidados relativos à procedência do veículo, é necessário também se atentar para que a escolha do modelo não traga prejuízos significativos diante de uma eventual revenda ou reposição de peça. Com o passar do tempo, é normal a depreciação do valor do automóvel de todas as marcas e faixas de preço. Contudo, alguns modelos têm uma desvalorização maior em função da sua saída do mercado e do alto custo da manutenção, fatores que desmotivam sua procura para compra e dificultam a revenda.

Segundo César Lançoni, da Cabral Automóveis, um novo lançamento de um mesmo modelo também deprecia o valor do carro. "Se você pagou R$ 30 mil num carro novo no ano passado e nesse ano o mesmo modelo foi relançado, isso aumenta um pouco a depreciação do veículo", exemplifica Lançoni. Para ele, os modelos que podem gerar alguns transtornos são os importados mais antigos, fora de linha, com peças de reposição que podem custar até 20% do valor do carro. "Depois vêm alguns modelos fabricados no Brasil com mais de 5 anos de uso, cujas peças também podem custar caro, de forma desproporcional ao preço do veículo", complementa.

De acordo com Lidacir Antônio Rigon, da Rigon Veículos, os automóveis de marcas que já deixaram o país ou que têm necessidade de importação de peças são os que apresentam maior dificuldade de revenda. "Entre eles, por exemplo, estão modelos da Mazda, Suzuki e alguns da Volvo", afirma. Por outro lado, os populares - principalmente os mais recentes, com até 5 anos de uso - são os que mais conservam seu preço para revenda. "A grande vedete é o Gol, que tem um público fiel, bom valor de revenda e uma baixa manutenção. Da GM, o Celta também é sucesso, e o Astra está em evidência. Da Fiat destaco o Palio, e da Ford o Fiesta", completa Rigon.

Dicas

  • Não se iluda por um preço atrativo demais e desconfie se ele for muito menor que o valor de mercado;

  • Examine o veículo à luz do dia e totalmente seco para que possíveis defeitos não passem despercebidos. Observe se há retoques na pintura, manchas opacas ou massa plástica que indicam correções na lataria (leia-se carro batido). Pintura muito brilhante é sinal de que o carro foi polido ou pintado para disfarçar possíveis amassados. Bata levemente com a mão na lataria observando a dierença de som para descobrir pontos com massa plástica. Outra técnica é passar um imã envolto em um pano sobre os locais suspeitos. Na lata o imã vai aderir e onde houver massa plástica o imã se desprenderá;

  • Procure possíveis pontos de ferrugem no fundo do porta-malas, na parte inferior das portas e nas dobras dos para-lamas;

  • Verifique se existem pingos de óleo embaixo do carro, pois podem ser conseqüência de um vazamento. Enquanto estiver acelerando, perceba se sai fumaça do escapamento. Depois olhe o bocal do escape. Cano de escapamento sujo de óleo ou soltando muita fumaça é sinal de que há vazamento interno de óleo ou que o motor está no fim de sua vida útil;

  • Confira as características do carro com as que constam no certificado de propriedade: ano, marca, número do chassi, cor, etc. Marcas de solda ao redor da área de identificação do chassi podem acusar uma adulteração assim como desalinhamento ou espaçamento entre as letras e os números. Certifique-se que o número do chassi confira com o dos vidros e documento. Se você passar um cotonete com acetona sobre o número do chassi, a tinta não pode sair. Às vezes ficam vestígios de adulteração no número dos vidros que podem ser vistos passando-se um giz sobre o local;

  • Olhe as condições do estofamento. Cheiro de mofo e vidros embaçados demonstram que entrou água dentro do veículo;

  • Verifique se todos os comandos estão funcionando corretamente: faróis, limpadores de pára-brisa, desembaçador, luzes de pisca / freio / ré, buzina, velocímetro, marcador de temperatura e outros equipamentos;

  • Peça sempre o manual do automóvel e os comprovantes de revisão;

  • Antes de efetivar a compra leve o carro ao mecânico de sua confiança para fazer um teste e uma inspeção final;

  • Informe-se dos preços de manutenção, seguro e impostos do carro escolhido.

Velocímetro adulterado é crime

Existe quem altere os velocímetros dos automóveis, baixando a quilometragem original, dando uma falsa impressão de pouco uso. Segundo o consultor Cláudio Boriola, especialista em economia doméstica e direitos do consumidor, muitos consumidores estão comprando "gato por lebre" e, deve denunciar essa prática para a Polícia, pois é lógico que o prejuízo virá. Além de comprometer o seu bolso, comprometerá, também, a sua segurança familiar.

"Ao comprar um veículo usado, consulte um perito para constatar a vida útil do motor, numeração de chassi, carroceria, inclusive, se houve adulteração da quilometragem, entre outros detalhes importantes do que se está comprando. Depois de certo tempo da compra, você não poderá mais devolvê-lo ou reclamar defeito algum", orienta Boriola. Aconselhando-se com um técnico em inspeção, ou empresas especializadas para combater esse tipo de fraude, você terá o carro, que atenderá suas necessidades; comprará um produto garantido. Essa atitude deixará de desorganizar seu orçamento e, conseqüentemente, você não precisará dizer à família que não pode gastar mais durante meses, exatamente porque gastou no conserto do carro.

No caso de constatar a adulteração do velocímetro, o consumidor deve imediatamente procurar a polícia com todos os documentos, com o contrato de compra e venda e o laudo pericial. "Este ato criminoso feito contra os direitos do consumidor, induz o consumidor a erro, em condições enganosas ou impróprias. Faça a sua parte e, denuncie essa prática", enfatiza o consultor. Após, constatado, as irregularidades, além de fazer a queixa crime na delegacia de polícia, o consumidor deverá procurar um advogado de sua confiança para ingressar com a ação civil de reparação de danos, contra o infrator que lhe vendeu "gato por lebre".

Ficha técnica

Página inicial